Quando
ele passeia pela floresta
os astros se escondem em seus casulos
de cristal e as ramagens genuflexas
derramam no ar gorjeios de alaúdes.
O tigre
escuta o cântico das árvores
seduzidas pela flauta de Pã.
Seus olhos, dançarinos entre as flores
querem dormir ao sol de Aldebarã
A noite
arrasta o seu manto de búzios
sobre os pântanos coroados de chamas.
O tigre é um deus que sai de seus refúgios
para comer os brolhos das semanas.
O vento
apaga as lâmpadas dos charcos
volta a zumbir nas veias dos cipós.
O tigre escreve a lenda de seus passos.
Em seu rumor canta secreta voz
As
horas passam, suas vestes longas
tocam de leve as harpas das clareiras.
O andar do tigre e o espírito das sombras
são dois impulsos para as
profundezas.
A tarde e o rio
A tarde molha as asas de águia nas águas do rio,
enquanto sol, albatroz sonolento,
é engolido pela sombra do tigre ou da montanha.
Pombas arrulham docemente nas copas
das árvores. Cigarras de alumínio se despedem do dia.
Aves de rapina se entrelaçam no azul
polido de um verão que está chegando ao fim.
Pássaros de agouro pousam nas cumeeiras das casas.
Morcegos e andorinhas desenham revoadas
nupciais em memória das igrejas brancas dos arrabaldes.
Pastor tange de volta seu rebanho de ovelhas,
ao som de uma flauta que o vento semeia
nas
encruzilhadas e ermos onde as sombras se bifurcam.
Lobos uivam à espera da lua banhada de sangue.
É a hora em que os olhos dos afogados
pedem para não
morrer.
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