Rua do Bonjardim


I

 

Vindo do marquês, o autocarro

chiava na curva estreita, soltando

os seus vapores de gasóleo, e

num portal surgia um gato pardo

para o qual me inclinei, sabendo

que fugiria ao contacto

da minha mão, ou apenas ao

esboço de carícia, como fazem

os gatos, tão fugidios na presença

de estranhos. Mas o animal, no

instante do recuo, aceitou o

deslizar dos meus dedos,

em troca de amáveis energias. E

uma longa saudade subiu-me pelo

braço, no arquear festivo

daquele pequeno tigre.

[Inês Lourenço]

 

 

 

 

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