O rebelde

 

É um lobo do mar: numa espelunca

Mo ra, à beira do Oceano, em rocha alpestre;
Ira-se a onda e, qual tigre silvestre,
De mortos vegetais a praia junca.

 

E ele, olhando como um velho mestre
O revoltoso que não dorme nunca,
Recurva o dedo como garra adunca,
Sobre o cachimbo, único amor terrestre,

 

E então assoma-lhe um sorriso amargo...
É um rebelde também, cérebro largo,
Que odeia os reis e os padres excomunga.

 

À noite, dorme sem rezar: que importa?
Enorme cão fiel, guarda-lhe a porta
O velho mar soturno que resmunga.

 

 

[Lúcio Eugênio de Meneses e Vasconcelos Drummond Furtado de Mendonça (Piraí,1854 —  Rio de Janeiro, 1909)]

 

 

 

 

| entrada | Llibre del Tigre | sèrieAlfa | varia | Berliner Mauer |