A Doma do Potro Corisco  
  Correu notícia que havia
Um fazendeiro afamado...
Que tinha um potro aporreado
Haragano e muito arisco
Matreiro e tão ardiloso...
Que parecia um tinhoso
E se chamava corisco

Criado, quase selvagem
Nos campos mais afastados
Não conhecia alambrado,
No campo era soberano,
Era um bagual alazão
Ligeiro igual furacão
E livre, como o minuano.

Para laçar este potro
Reuniu toda peonada,
Separam da manada
O colocaram arreio,
Cada peão que montava
Pensando que lhe domava
Caia o tombo, mais feio.

Tiveram que desistir
Deixando o potro aporreado,
Redomão e mal – domado
E o fazendeiro Francisco,
Bancando o bom cavalheiro
Dava cem mil em dinheiro
Pra quem domasse o corisco.

Fiquei sabendo da oferta
Pensei uma hora e meia
Vi que a parada era feia
Mais resolvi aceitar
E, mesmo correndo risco
De perder para o corisco
Eu precisava arriscar.

Encilhei meu pingo branco,
Meu cavalo de confiança...
Renovei minha esperança
E fui tratar com Dom Chico,
Sujeito de pouco estudo
Mas, entendia de tudo...
Com honras, lhe qualifico.

Cheguei na fazenda grande
Domingo de céu nublado...
Dom Chico estava sentado
Com a família na varanda,
Afinando um violão
E tomando chimarrão
Com sua Iolanda.

Me recebeu com reservas
Perguntando o que eu queria,
Eu lhe disse o que devia:
—sou um peão de talento
domador de potro chucro,
onde vejo que dá lucro
então ali me apresento.

O velho me olhou sorrindo
E disse:—meu bom rapaz!
te apresenta ao capataz
e diga que amanhã bem cedo
corisco vai ser domado,
ou ficar mais aporreado
se o domador tiver medo.

Não gostei da ironia!
Sou franco, senhor Francisco,
Mande pegar o corisco
Que eu quero encilhar agora
Vou mostrar que minha fama
Não pode, cair na lama...
Que cortá-lo de espora.

Eram mais de meia tarde
Quando laçaram o bagual,
Mais brabo que este animal
Somente tigre ou leão,
Dava coice e manotaço
Mordendo e dando pataço
E cavocando no chão.

Encilhei este cavalo
Montei e mandei soltar,
Começou a corcovear
Então eu baixei-lhe o mango,
Juntei o bicho na espora
E saímos campo à fora
Fiz até dançar um tango.
Este potro corcoveava
Chegava a tremer o chão...
Eu agüentando o tirão
Mas confesso que assustado,
Pois nunca vi coisa igual
Parecia, que o bagual
Estava endemoniado.

Mais ou menos quatro horas
Corcoveando sem parar,
Cansou de tanto apanhar,
Parou e ficou quietinho...
Por quase uma meia hora
Cortando a mango e espora
Desde a anca, até o focinho.

Já eram quase dez horas
Dom Chico estava apreensivo
Sem saber se eu estava vivo,
Derrepente fui chegando
No trote do alazão...
Fui direto ao galpão
Onde estavam me esperando.

Apeei frente ao galpão
O pessoal me aplaudiu,
Dom Chico quando, me viu
Ficou todo sorridente,
Peço desculpa seu moço
Eu sei que banquei o grosso
Com um rapaz competente.

Espero que me desculpe
Aqui está o seu dinheiro,
Mandei preparar primeiro
Um banho e um chimarrão,
Depois vamos churrasquear
E juntos comemorar
Aqui mesmo no galpão.

Eu aceitei o convite
Para jantar no galpão
Senti que meu coração
Bateu mais forte e ligeiro
Quando vi, bela e formosa,
Mais linda que a própria rosa
A filha do fazendeiro.

Fiquei bastante a vontade
Lá no galpão da fazenda,
Jantei ao lado da prenda
Que me pediu, por favor,
Fique aqui, não vá embora
Se não meu coração chora
Por falta do teu amor.

Eu, que sempre fui matreiro
Ressabiado de pealo
Encilhei o meu cavalo
Pedi desculpas a Dom Chico
Na prenda fiz um carinho
Despedi com um beijinho
Mas...desta vez eu não fico...

                                                                 [Arin Neri de Oliveira e Siza]

 

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