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[José Eduardo Degrazia (Porto Alegre RS, Brasil, 1951-)]

 

Sonhar um tigre

A lua de Lugones

 

 

Sonhar um tigre

 

Sonhar um tigre, um tálamo de panteras,

um sussurro de suçuarana,

um silvo de selva onde cobras coleiam,

uma tômbola de pombos que tombam

no azul infinito da manhã,

e há relâmpagos azuis nos ramos das araucárias,

verdes colares de safira ardente

que tilintam nos dentes de marfim do vento,

e há gritos de bem-te-vis, cricris de grilos,

e o som marchetado em bronze

das cigarras barulhentas.

 

Tudo é verão na mata e esplende

como pulseira de prata no pulso

de mulher morena, amorosamente.

 

Û

 

A lua de Lugones

 

             Ese es mi corazón, el Maldiciente.

                        Leopoldo Lugones

 

Tenho, num sentimento vago

de um cisne nadando num lago,

a percepção fantasmagórica

da Lua nítida e alegórica

pintada por pincel de mago.

 

Suave Lua de Lugones

observando através dos cones

dos observatórios noturnos,

o espaço movendo-se em turnos,

os perfis das musas insones.

 

Sobre a gélida superfície

espera-se que se oficie

a liturgia sentimental

do salso-chorão instrumental

que lúgubres notas inicie.

 

Na triste ilusão do Zodíaco

eleva-se um som elegíaco

da Torre do poeta do Tigre,

leão ferido, doce Tigre,

cisne ornamental e cardíaco.

 

Û

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