Caso de vida:  
 

De repente eu acordei aqui, nesta terra, neste chão. Não achei minha mãe, e demoraram para dizer-me algo sobre meu pai. Eu tive sonhos e desejos. Queria ser pequena e enorme, e ter o poder sobre todas as coisas. Não sabia que estava tudo desligado, e a realidade tão distante. Vivi tanto tempo presa entre estas paredes, e tenho que usar a roupa que passa pela cabeça de uma estúpida máquina de costura. Ah, coisa difícil isto tudo! O tigre se esqueceu que me devia submissão, e que meus carinhos seriam motivo de paz, e até com as formigas eu tenho que negociar, com toda a sociedade delas... E vós, ignóbeis que guiam o mundo na adoração à vaidade, me causam uma dor de cabeça incurável! Quem vos conferiu tamanha idiotice? Eu estou amarrada por mil laços, e meu sangue cai gota a gota à luz do dia. Esperam que seja vosso deleite... Mas o que não sabem e que eu faço milagres, que vivo para isto. Onde caem minhas lágrimas nascem roseiras, que a uns agradam e outros espetam. Meu corpo é para isto também, para que os vossos espinhos tenham sua vítima, e eu os abrace contra a minha pele. Já não há mais espaço como antes. Então, onde está a novidade? Está onde sempre esteve! Coloque a mão no meu peito, se renda, desista deste complexo de argumentos incapazes. Só quero ver o que tens a dizer, qual a desculpa agora, para não me amar, para não me levar para casa... Foi assim que eu sempre quis, dormir junto de todos no grande lar desta terra. Já é tarde, o trabalho foi cansativo. Brigamos! Mas, sabe de uma coisa? Gosto de todos. Venha cá e me abrace, entre pra jantar comigo, para que eu te guarde eternamente no meu universo!

[Marcelo Johann]

 

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